Carmelita Braga Damasceno, moradora do bairro Jaqueira do Carneiro, entorno do Cabula e bairro periférico de Salvador, Bahia tem 79 anos, e começou a morar no bairro com seus 24 anos de idade em 1964. Ela nos conta um pouco das mudanças e vivencias nesses 55 anos no bairro.

 

“Você sabe por que se chama Jaqueira do Carneiro?”

 

“Porque ali onde é o ponto de ônibus tinha uma jaqueira bem grandona, traziam os carneiros, quando chegava na jaqueira amarrava e davam água do Rio das tripas, a água que dava aos carneiros pegava no rio, que foi se destruindo,  o Rio das Tripas é grande”, (também chamado de Rio Camurujipe), a gente pegava camarão no rio e se juntava pra comer, de todo jeito, óleo e alho, mas tava bom, é o que passa aqui até hoje, mas era limpo, ele era rio. A gente pegava camarão, pitú, peixe, tudo isso pra comer”.

De acordo com o desenrolar da entrevista falando sobre o bairro, temos curiosidades sobre avida dela.

“Eu vim praqui com 24 anos de idade, trouxe um filho pra cá, os outros nasceram aqui, as casas aqui tudo era de taipa ou era barraco de madeira, eu comprei antes uma casa lá em cima (se referindo ao bairro Fazenda Grande do Retiro) com medo da água, porque quando chovia o rio enchia (O Rio Das Tripas), e levava travesseiro, colchão, bojão de gás, levava tudo. Ai ninguém queria comprar casa aqui. O Cabula antes era perto, agora está dividido pela BR, antes era tudo Cabula, só tinha o Cabula, a gente pegava a pista aqui, subia pelas estradinhas e ia pegar manga no Cabula, era tudo fazenda ali, só tinha fazenda, antes não tinha essa BR. O retorno do bonde era na frente do SESI, ai ele chegava com o pessoal, eles saltavam e a gente pegava.”

Imagem: Adriele Conceição

“Quando eu vim praqui onde é o SESI era um matadouro, os bois vinham por aqui correndo, quando o boi conseguia fugir e saia sangrando por aqui a fora e aí ninguém queria ficar por aqui, os bois eram matados ai, a gente passava por dentro do matadouro, era aberto, só tinha cercado no lugar onde matava os bois, a gente comprava fato, 5 e meia se você passasse ali comprava fato fresquinho na hora,  fígado fresquinho, passarinha, miolo...” “Tinha um armazenzinho aqui em baixo que vendia carne de sertão, feijão arroz, a gente comprava na feira, botava num saco de papel e vinha”

Perguntamos a Dona Carmelita, como era a mobilidade na região naquela época, e ela nos disse: “Eu trabalhava na rua (Calçada), pra mim ir pro trabalho eu levava dois sapatos, um na bolsa e outro no pé, quando eu chegava onde é o SESI que antes era o matadouro, eu deixava o sapato e pegava o bonde e ia (deixava no paredão escondido) e na volta eu calçava o outro todo melado de lama, porque era muita lama.”

Finalizamos a nossa conversa com a sensação de nostalgia a respeito da região do entorno do Cabula.

“Lá no arraial do Retiro a gente botava uma radiolinha e ia sambar até umas horas e meus filhos jogavam bola no meio da rua. Antigamente era coisa gostosa, hoje em dia...”.

Por: Adriele Conceição e Késsia Santiago

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